As eleições e a revolução

Oi gente,

O clima aqui no Rio de Janeiro é de segundo turno e não vou deixar passar a oportunidade pra falar um pouco no assunto.

O mundo que eu quero está bem longe de existir, tem gente que chama de utopia, eu prefiro horizonte (embora em termos práticos dê no mesmo), eu não vou chegar lá, mas é uma direção pra onde caminhar. Não acredito que eu vá ver nada do que realmente quero pra sociedade, mas é a direção da luta pra um dia, quem sabe, a sociedade chegar mais perto.

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Pois bem, as urnas não são o caminho para esse mundo, isso é bem claro para mim, se votar mudasse alguma coisa, seria proibido. Para o que eu quero só as ruas e a revolução, o voto não vai revolucionar nada, não vai mudar de verdade nada, mas ainda assim eu voto (ou voto quando acho que tenho alguma opção plausível). Mas por quê?

Não acredito que a revolução virá por meio do voto, mas acredito que algumas poucas reformas podem vir sim, principalmente quando falamos de legislativo (vereadores, deputados e senadores). Se tratando de executivo (prefeito, governador e presidente), não acredito que conseguem chegar ao poder sem se render ao sistema ou governar sem o apoio do legislativo, mas ainda assim acho que um presidente mais ou menos reacionário pode fazer alguma mínima diferença.

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Nenhuma reforma vai mudar a sociedade nem alcançar o tal horizonte, mas nos últimos anos, por exemplo, vimos as vagas das universidades federais aumentarem e muita gente de família pobre entrando na universidade. No Rio de Janeiro, vimos uma piora considerável nos transportes (pra quem é daqui sabe que de repente a gente não conhece mais nenhuma linha de ônibus, que troncal é esse?), além do encarecimento absurdo da passagem de ônibus que já está quase nos quatro reais.

Então não acho de fato que votar nesse segundo turno vá fazer alguma diferença real aqui na minha cidade, mas dá pra esperar algumas pequenas mudanças que podem sim deixar a vida um pouco menos pior e talvez alguns passinhos mais perto do tal horizonte. Ou talvez eu seja só mais uma romântica.

Beijos

Mulheres são ensinadas a cuidar

O que esperar de uma sociedade onde a mulher é ensinada a amar sempre, desde criança e o homem não? Pois é, desde que somos crianças a gente cuida da boneca, cuida da casinha na brincadeira, cuida do irmão mais novo e vê mulheres nesse papel de quem cuida. A gente é ensinada a se doar pelos outros e amar incondicionalmente, principalmente se esse outro for homem.

E os meninos? Os meninos não cuidam, eles nem ao menos se cuidam (até porque sempre tem uma mulher que cuide), no máximo eles protegem. O irmão que protege a irmã de outros caras, o namorado que protege a namorada acompanhando-a até em casa, o príncipe que protege a princesa da bruxa ou do dragão… Ué, mas não é a mesma coisa? Não. A mulher que protege ela se doa e, muitas vezes, se anula. Os homens não, os homens protegendo eles se enaltecem, viram heróis. Nenhuma mulher vira heroína por fazer o almoço todos os dias ou deixar a casa arrumada, mas o homem que abre a porta do carro é enaltecido.

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Além de nos ensinarem a cuidar, amar e nos anular pra isso, somos ensinadas também à heterossexualidade, que precisamos de um homem na função de companheiros para estarmos bem. Uma mulher que chega aos 30 sem marido ou, pelo menos um namorado, já tá passando da idade, é uma solteirona, mas o homem mesmo aos 40 ou 50 pode estar curtindo a vida. Além de que as mulheres envelhecem e ficam mais feias, os homens ficam charmosos, a idade lhes cai bem (mas isso é assunto pra um outro post). Bom, então estamos ensinando nossas meninas a amar homens, mas não ensinamos nossos meninos a amarem mulheres, como isso pode funcionar?

Pois é, não pode. Quando a gente ensina pras meninas que a coisa mais valiosa que ela pode ter é o amor de um homem, a gente está ensinando que vale a pena tentar de novo e aguentar mais um pouco, porque ele é o verdadeiro amor da vida dela e ela só será completa com ele. Quando encaramos casamento como a salvação para a mulher e uma armadilha para o homem, quando a gente romantiza a violência ou os ciúmes (tipo a frase matar de amor ou ser ciumento porque ama muito), a gente direciona mulheres para o feminicídio. A mulher ciumenta é louca, o homem, ama, está cuidando do que é seu. É assim que a gente alimenta relacionamentos abusivos.

A única forma que um relacionamento pode dar certo e se as duas partes compartilharem coisas. A gente precisa ensinar os meninos sim a amar, respeitar e admirar mulheres desde crianças, e precisamos ensinar as mulheres a serem fortes, independentes, pensarem em si, se amarem e se sentirem completas, além de também conhecer e admirar mulheres. Não é só mãe, nem só pai que tem que ajudar nisso, se você tem contato com crianças e adolescentes, vale a pena refletir sobre isso.

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A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil em média, o feminicídio e a violência masculina ferem e matam mulheres diariamente, não é um cara doente ou psicopata que estupra e mata mulheres por aí, são os homens ensinados a odiarem mulheres, são os homens normais da nossa sociedade patriarcal.

 “Dizer que um homem é heterossexual implica somente que ele mantém relações sexuais exclusivamente com o sexo oposto, ou seja, mulheres. Tudo ou quase tudo que é próprio do amor, a maioria dos homens hétero reservam exclusivamente para outros homens. As pessoas que eles admiram; respeitam; adoram e veneram; honram; quem eles imitam, idolatram e com quem criam vínculos mais profundos; a quem estão dispostos a ensinar e com quem estão dispostos a aprender; aqueles cujo respeito, admiração, reconhecimento, honra, reverência e amor eles desejam: estes são, em sua maioria esmagadora, outros homens. Em suas relações com mulheres, o que é visto como respeito é gentileza, generosidade ou paternalismo; o que é visto como honra é a colocação da mulher em uma redoma. Das mulheres eles querem devoção, servitude e sexo. A cultura heterossexual masculina é homoafetiva; ela cultiva o amor pelos homens.”

Marilyn Frye

Beijos

As meninas são mais bonitas na adolescência – ou incitação à pedofilia

Oi gente,

Outro dia estava conversando com algumas amigas sobre adolescência e uma delas disse que, embora tenhamos melhorado bastante dos nossos 15 anos para hoje, durante a adolescência, muitas meninas são bonitas, mas os meninos… Dificilmente algum salva.

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Será que isso é verdade, ou melhor, o que se esconde por trás dessa verdade? Pense nas meninas, desde crianças nós sofremos pressão para sermos bonitas, cuidarmos da nossa aparência e amadurecer depressa, desde pequenas somos sexualizadas e só a beleza é valorizada, a menina é linda, o menino é forte e inteligente.

A mulher é valorizada por ser novinha e o homem por ser maduro e bem sucedido. Basta olhar em sites de pornografia, em músicas, filmes, casais famosos… A novinha sempre tem destaque, a mulher precisa ser mais nova que o homem, muitas vezes bem mais nova, na pornografia, meninas que aparentam ter menos de 18 anos, são muitas vezes caracterizadas para parecerem crianças. Isso sem falar na pornografia e prostituição real de menores de idade, e nos casamentos infantis, ambos muito comuns aqui no Brasil.

Procura no Google imagens de age play, sugar daddy e sugar baby (age play seria brincar que uma das pessoas é muito mais velha que a outra, prática comum para atividades sexuais e claro, a mulher é, na maioria das vezes, a mais nova; sugar daddy é o homem maduro e bem sucedido que quer ostentar e sustentar uma sugar baby, a menina bonita e novinha).

Homem melhora com o tempo, ficam charmosos com seus cabelos brancos e marcas de expressão, tornam-se bem sucedidos, maduros. As mulheres não, elas precisam tingir o cabelo, usar cremes e fazer tratamentos estéticos, ou todos perceberão sua idade real, o que é um problema.

Homens podem envelhecer e continuar sendo galãs, olha o José Mayer, Antônio Fagundes e Tarcísio Meira (só pra ficar entre os brasileiros) que continuam (ou continuaram por muito tempo) fazendo papel de homens desejáveis. As mulheres não, elas logo perdem os papeis principais, são trocadas por outras mais jovens.

Não há nada essencial que faça as mulheres mais bonitas na adolescência ou a maturidade cair melhor para os homens. Mas nossa sociedade continua valorizando essa realidade, o que movimenta muito a indústria da beleza e das plásticas, sem falar na indústria pornográfica e da prostituição, e contribui bastante para perpetuar casais com enorme diferença de idade nos quais o homem é muito mais velho, o que poderíamos chamar também de pedofilia.

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Talvez vocês achem meio “radical” falar em pedofilia quando tratamos de mulheres maiores de 14 anos, mas o incentivo a esse tipo de relação, onde os homens são sempre os mais velhos, não pode ter outro nome. Eu insisto, pesquisem no Google imagens ‘age play’ e vocês vão ver mulheres fingindo serem crianças, ou até mesmo bebês (mas eu nunca vi um homem fingindo ser um bebê na hora do sexo), busquem ‘novinha’ em sites de pornografia e vocês verão também. Se atentem à média de idade da entrada de meninas na prostituição no Brasil (13 anos). Não é possível negar a cultura da pedofilia e como ela chega a nós nos mínimos detalhes.

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Beijos

Mais macho que você – expressões sexistas

Oi gente,

Já repararam que as expressões que envolvem “coisas de menina ou mulher” são bem diferentes daquelas que falam em “coisas de macho ou homem”?

UFC 184: Rousey v Zingano

Ronda Rousey

Pensem nessas frases “ele é uma moça”, “ela é muito mulherzinha”, “meu irmão bate como uma menina” e “sou mais homem que você”, “ele é muito homem”, “bate que nem macho!”. Deu pra perceber que as frases que usam os estereótipos femininos são sempre negativas, inferiorizando, e as outras, com estereótipos masculinas, são positivas, valorizam? Os exemplos variam bastante, mas o sentido geral se mantém.

Quando usamos uma frase dessas não precisamos explicar o que queremos dizer, todos sabem que ser como uma mulher é ruim e ser como um homem é bom. Se a gente quiser subverter essa lógica, por exemplo, dizer que lutar bem é lutar como uma mulher, temos que explicar esse novo sentido, já que naturalmente lutar como uma mulher é lutar mal.

Bom, eu sou mulher e não posso achar razoável que ser como eu (e como metade da população mundial) seja considerado negativo. Isso sem contar que mulheres são pessoas, cada uma com uma particularidade e habilidades diferentes, não há uniformidade em ser mulher (só o fato de ser mulher e ser criada como tal, mesmo). Pense nas mulheres que vocês conhecem, certamente elas possuem habilidades, e cada uma suas habilidades diferentes. Então qual o sentido de, quando dizemos “faz x coisa como uma mulher” querer dizer que a coisa é mal feita (a não ser que se trate de alguma habilidade dentro do estereótipo feminino, como limpar ou cuidar)?

Brazil v Korea Republic: Group E - FIFA Women's World Cup 2015

Marta

Somos criados com a ideia de que mulher é inferior, então é óbvio que mesmo as mulheres não querem se encaixar no estereótipo feminino, que é negativo, mas no masculino, positivo. Precisamos, não só parar de falar “agir como uma mulher” x “agir como um homem”, mas também chamara a atenção daqueles que ainda usam essas expressões e, claro, parar de ensinar que mulheres são inferiores.

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Beijos

Amigo homem é melhor

Oi gente,

Desde pequena a maior parte (se não todas) das minhas amigas era menina. E eu sempre ouvi dizer que ter amigos homens era bem melhor.

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Eu não sabia dizer, eu não tinha, mas ouvia que homens que eram amigos de verdade, não tinham frescura nem eram falsos como as mulheres. Eu só conseguia pensar que minhas amigas não eram falsas, eram ótimas, mas eu queria sim ter amigos homens, se todos diziam que eles eram melhores, eles deviam ser mesmo.

Não é que eu não convivesse com homens, sempre convivi, mas amigo mesmo, daqueles que posso chamar pra sair, conversar e tals, passei a maior parte da minha vida sem. Fui ter amigos homens na faculdade, amigos que guardo até hoje e sim, adoro meus amigos homens. Mas há alguns anos parei para refletir por que todo mundo sempre diz que amigos homens são melhores e por que eu sempre quis tanto ser rodeada por eles.

Bom, percebi algumas coisas. De forma geral, ser homem é melhor que ser mulher, mulher é falsa, faz intriga, é fofoqueira, é fraca, fresca, metida, fútil… enfim, quando a gente pensa no estereótipo mulher ele é sempre negativo (você parece uma mulherzinha x bate que nem homem). Então nada mais lógico do que querer estar cercado dos melhores, ou seja, homens. Por isso ter amigos homens é tão melhor. Além disso, se os homens te aceitam no meio deles está claro que você é diferente, você não é como as outras mulheres (ou seja, você não é metida, fresca, fraca, fútil, etc, etc), você é melhor que elas. E sério, quem quer ser igual às outras mulheres se ser mulher é sempre negativo?

Mas peraí, quem disse que essa definição é real? Eu sou mulher, tenho vários defeitos, várias qualidades, sou um ser humano único e não correspondo ao estereótipo, as várias e várias mulheres que conheço também são assim, cada uma do seu jeito, mas nenhuma pior de verdade que os homens. Pois é, mas desde pequena querem me ensinar a não confiar de verdade nas mulheres, querem dizer que não são amigas de verdade e que existe uma rivalidade entre a gente e aí pronto, sem nem perceber a gente passa a ver mulher como inimiga (aquela vaca piranha, falsa, recalcada, mulher se veste pra outras mulheres, pra se comparar, pra causar inveja).

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A gente é ensinada a isso tão desde pequena que muitas vezes nem questionamos e acabamos nos achando superiores mesmo em relação às outras mulheres, seja por termos amigos homens, seja por outro motivo. Ou seja, se sentir superior por ser cercada de amigOs acaba aumentando essa rivalidade feminina, que nem devia existir, né?

E tem mais uma coisa, desde crianças a gente é criada também pra agradar os homens, chamar atenção deles e ser interessante do ponto de vista deles (homem não gosta de mulher gorda, homem gosta de mulher gostosa, quem gosta de osso é cachorro, homem tem medo de mulher tão inteligente, homem odeia discutir relação, nossa, chata assim você nunca vai conseguir ter um namorado ou casar…).

Bom, eu consegui ver que tudo isso de amigo homem ser melhor é besteira, eu sou mulher e sou incrível (e foda-se a modéstia), minhas amigas são, na maioria, mulheres e são incríveis, eu sou cercada de mulheres incríveis (e outras horríveis também, e homens incríveis e horríveis também, claro). Tento sempre refletir e não aumentar a rivalidade que tanto ensinam pra gente nem pregar conceitos prontos que inferiorizem mulheres. Aí, depois de refletir sobre por que é tão melhor ter amigos homens, cheguei a conclusão que é só mais um jeito de inferiorizar mulheres e que não, amigos homens não são melhores, vamos valorizar as mulheres do nosso lado.

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Beijos

Precisamos falar sobre a cultura do estupro

Oi gente,

Eu tenho uma lista de assuntos sobre os quais quero escrever por aqui (e eu atualizo pouco não é por falta de ideias nem de tempo, mas falta de disciplina e organização), mas às vezes surge alguma coisa que não dá pra deixar pra lá. E foi isso que aconteceu.

Quarta feira eu fiquei sabendo do vídeo vazado do estupro coletivo. Muito antes da mídia anunciar, diversas páginas feministas já estavam divulgando nomes e pedindo para ajudarmos a denunciar. O feriado inteiro meu feed do Facebook ficou tomado de notícias e reflexões sobre o assunto. Confesso que não foi um feriado fácil pra maioria das mulheres que conheço e uma coisa ficou bem clara, precisamos falar sobre cultura do estupro.

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Mulher, um objeto a ser consumido, assim como a cerveja

Fica bem claro que vivemos em uma cultura do estupro quando as meninas, ainda criança, aprendem que é normal o menino tentar levantar sua saia, quando reforçamos pros meninos que eles precisam ser garanhões, que podem roubar um beijo da amiguinha, que quanto mais namoradinhas ele tiver, melhor, que quando um menino bate em uma menina é porque gosta dela, que o menino quando crescer vai “pegar todas” e a menina “vai dar trabalho”, quando dizemos “prendam suas cabras que meu bode está solto” ou que pai de menina “passa de consumidor a fornecedor”.

Enaltecemos a cultura do estupro quando ensinamos para as meninas que não devem ser assertivas, que devem fazer charminho ou cu doce, e aí deslegitimamos o “não” das mulheres, e também quando ensinamos os meninos que não devem desistir no primeiro “não”, que devem insistir sempre, quando ensinamos que o papel do homem é “avançar o sinal”, “forçar a barra” e o da mulher de “travar”, quando falamos do instinto masculino e de sua necessidade de sexo e ensinamos que as mulheres devem tomar cuidado ou que usando certa roupa, tendo certo comportamento, estando em certo lugar, andando com certas pessoas, tendo certas atitudes “está pedindo” ou “mereceu”, ou que não devem dizer “não” a seus namorados, já que “se não tiver em casa, ele vai procurar na rua”, ou que “o homem não sabe por que bate, mas a mulher sabe por que apanha”, ou “em briga de marido e mulher, não se mete a colher” naturalizando a violência.

Incentivamos a cultura do estupro quando achamos normais propagandas que objetificam as mulheres como se fossem produtos ou reforçam a ideia do homem usando a força sobre a mulher, quando a imagem da mulher só importa se estiver a serviço do homem, se for bela, quando a sexualidade da mulher está sempre voltada a agradar os homens, nunca preocupada com o prazer da mulher, quando desumanizamos estupradores e os comparamos com monstros ou vermes, quando na verdade são apenas homens, quando dizemos que esses mesmos estupradores “viram mulher” na cadeia, reforçando que ser mulher é ser violentada.

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Apologia bem clara ao estupro, a propaganda a serviço dessa cultura

Estimulamos a cultura do estupro com a indústria pornográfica que só foca no prazer masculino, onde a violência é banalizada, o sexo bom é o “selvagem” que “mete com força”, “arromba” e chama de puta, onde mulher é tratada como objeto, humilhada e tem mais é que gostar, porque isso é ser livre, é não ser puritana, quando achamos ok homens comprarem sexo e fazerem o que quiserem com mulheres, já que estão pagando.

Incitamos a cultura do estupro cada vez que mulheres são vistas apenas como objetos que servem apenas para sexo e o prazer masculino, cada vez que estudamos, lemos, assistimos e valorizamos apenas homens e deixamos mulheres como seres humanos de segunda categoria (ou o segundo sexo, como bem colocou Simone de Beauvoir).

Precisamos discutir sobre cultura do estupro, precisamos conversar com as crianças, com os adolescentes, com nossos alunos, filhos, sobrinhos e amigos. Precisamos apoiar outras mulheres, precisamos nos unir, nos ouvir.

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Beijos

 

Estereótipos de gênero e o cabelo curto

Oi gente,

Até 2008 eu tinha um cabelo enorme e cortei na altura do queixo. De lá pra cá tive diversos cortes entre médios, curtos e curtíssimos e também diversas cores de cabelo.

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Meu cabelo

Acho que todo mundo concorda que na nossa sociedade o cabelo mais aceito como “de mulher” é o cabelo comprido, é só a gente olhar em volta, a maioria dos homens tem cabelo muito mais curto que a maioria das mulheres. Ter cabelo comprido é algo que nos ensinam desde criança que é de menina, feminino, sensual, que deixa qualquer mulher mais bonita.

Então a gente não seguir isso que foi imposto é quebrar estereótipo de gênero. Pois bem, até sexta eu estava com o cabelo curto para médio, por mais que fosse um cabelo curto “para mulher”, ainda era um cabelo feminino (que diabos é um cabelo feminino, serio?). Pois bem, agora ele está curtíssimo.

Não é a primeira vez que uso um curtíssimo, então não é a primeira vez que enfrento a dificuldade de quebrar estereótipos de gênero. E ir contra o padrão definitivamente não é fácil.

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Atriz Gabourey Sidibe

Eu tenho plena noção de que estou bem dentro dos padrões estéticos e, mesmo assim, só por ter o cabelo curto, já sinto pressão, imagina quem realmente está fora dos padrões impostos ou realmente desafia os estereótipos de gênero.

Eu adoro meu cabelo curto (e por isso que cortei), mas nem por isso deixo de sentir pressões ou ouvir (mesmo sem perguntar ou ter pedido opinião) que eu fico melhor de cabelo comprido ou da cor natural. Inclusive percebi que com o cabelo mais curto acabo usando maquiagem com mais frequência como que para compensar a falta de “feminilidade” dos cabelos curtos.

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Cássia Eller

Tem dias que consigo ignorar melhor os estereótipos , mas em outros acabo cedendo. Não é fácil amar um corpo gordo, um rosto com cicatrizes e manchas, um nariz mais largo, um cabelo crespo ou mesmo um curto, mas acho que o primeiro passo é tomar consciência da opressão e questionar, questionar sempre.

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Beijos

Bela, recatada e do lar

Publicado em

Oi gente,

Vocês devem ter visto que há algumas semanas a revista Veja publicou uma matéria sobre Marcela Temer, esposa do vice-presidente, Michel Temer. Não li a matéria, mas pelo que soube, a revista coloca Marcela como a perfeita primeira dama, bela, recatada e do lar.

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Do carnaval

Lógico que essa imagem da mulher perfeita, bela, recatada e do lar, deixou muitas mulheres insatisfeitas e gerou uma grande campanha no Facebook e outras redes sociais em que mulheres postavam fotos com a #belarecatadaedolar desafiando esse estereótipo. Não vou falar da matéria porque, como disse antes, não li, quero falar sobre a campanha das mulheres.

O estereótipo bela, recatada e do lar é empurrado pra gente desde que nascemos. Por mais que as mulheres estejam no mercado de trabalho (e as mulheres pobres sempre tenham estado), é bem comum aquele sonho do marido rico que nos sustenta, o cara que ganha o suficiente para pagar nossas contas e a gente até pode trabalhar, mas por diversão, porque queremos.  Com certeza também conhecemos muitas mulheres que pararam de trabalhar depois que tiveram filhos para se dedicar inteiramente a eles e ao lar.

Claro que a campanha não é contra a Marcela ou as outras mulheres, mas contra o sistema que nos empurra esse ideal e contra a revista que faz uma matéria dessas, elogiando e valorizando esse tipo de mulher. Pois bem, eu poderia discutir mil coisas sobre esse assunto, mas vou discutir mesmo a hashtag.

Vi várias amigas usando a tal hashtag (#belasrecatadasedolar) e muitas delas trocando as palavras. Trocaram recatadas por desbocadas, descabeladas e do lar por do mar, do bar entre outras palavras. Mas o bela, todas mantiveram o bela. Claro que podemos passar horas discutindo padrões de beleza e o que significa ser bela, mas aqui a questão está mais para a importância da aparência, de não conseguirmos nos livrar da obrigação de sermos sempre belas.

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Será que a beleza precisa estar sempre entre nossas maiores qualidades? Será que é tão importante assim a gente ser “bela”? Será que se fôssemos elogiar um homem a beleza estaria entre as qualidades mais importantes?

Não estou aqui pra dar nenhum tipo de resposta, só para provocar a reflexão mesmo. Sempre foi nos cobrado que fôssemos belas, recatadas e do lar, já conseguimos nos revoltar contra o recato e o ser do lar, por que ser bela ainda é tão importante? Será que não devemos rever isso também? Não digo para nos considerarmos feias, mas para darmos valor a outras qualidades, sairmos das aparências, não sermos objeto decorativo de homem, mas importantes por nós mesmos.

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Beijos

Vale a pena #2

Publicado em

Oi gente,

Esse segundo Vale a pena tem uns textos que vão bem na contramão do primeiro.

Eu disse que tinha mudado algumas opiniões e alinhamentos, certo? Pois bem, convido todos a sempre refletirem sobre tudo que leem e buscar pontos de vista diferentes. O que posto aqui no blog não é verdade absoluta e nem se pretende ser, é apenas o que eu acredito e o que faz sentido pra mim. Vamos aos links então.

  1. Esse vídeo da Carol Wojtyla fala sobre vazamento de nude, inclusive sobre o vazamento de nudes em lugares supostamente seguros, como grupos feministas e lugares apenas com outras meninas.

  1. Esse vídeo é da Louie, uma menina lésbica falando sobre seu gênero, ser menina e menino, transgêneros e etc. Ela fala bastante sobre a vivência dela, acho bem interessante.

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  1. Esse texto é bem polêmico. Eu adoro, mas sei que muita gente não vai concordar. Tudo bem ter uma visão diferente, vamos só manter o respeito, ok? Fala sobre transfobia, o termo TERF (que é trans-exclusionary radical feminism, ou feministas radicais que excluem trans) e o problema de usar esse termo.

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  1. Acho que todo mundo sabe que as mulheres estão lutando cada vez mais por sua liberdade sexual, certo? Por poderem fazer sexo quando quiserem, por poderem gostar de sexo sem se envergonhar e etc. Mas às vezes toda essa liberdade se torna uma prisão. O texto fala sobre isso (e eu quero fazer, mais pra frente, um post sobre também).

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  1. Esse texto fala sobre bissexualidade e também sobre lesbofobia, sobre como muitas vezes nem percebemos a lesbofobia por aí, mas ela está presente e sobre como, muitas vezes bissexuais privilegiam relações com homens.

Esses são os links de hoje, se tiverem algum link legal também pra me recomendar, deixem nos comentários.

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Beijos

Mudanças e novos planos

Oi gente,

Quem acompanha (ou acompanhava) o blog percebeu que eu sumi completamente, né? Vou explicar um pouco o porquê e falar dos planos daqui pra frente.

desconstruir

Estou numa fase intensamente reflexiva da minha vida, principalmente reconsiderando muitos pensamentos que eu tinha. Então de repente esse blog, que refletia o que eu era, acreditava e gostava, ficou meio distante de mim mesma. Confesso que não estou sabendo administrar isso, aí me afastei.

Ainda bem que o nome do blog é isso, aquilo e tal, assim posso continuar mudando e sempre aqui, mas de repente, no seu espaço, terem textos que já não te representam é estranho. Ao mesmo tempo, tudo que escrevi aqui fez parte sim da minha vida, então também não me sinto a vontade pra apenas excluir só porque não concordo mais com aquilo.

A realidade é que não sei muito bem como prosseguir. Tenho muita coisa em mente, mas nada no papel (ou, no caso, na tela) e quero respeitar esse tempo meu também. Vou tentar continuar por aqui, mas sem pressões e sem datas (e isso é difícil pra mim, sou muito metódica) e ver se consigo reestruturar as coisas.

Pra mim nem sempre mudanças são fáceis, então já faz um tempo que estou pensando nessa reestruturação, mas sempre deixando pra depois o ato de realmente sentar e escrever esse post, que seria o início da mudança. Acho que toda mudança pode ser chamada também de amadurecimento, pelo menos quando são mudanças reais e profundas e amadurecer nem sempre é prazeroso, muitas vezes dói e dá vontade de voltar atrás, mas não é possível.

problematizar

Bem que muitas vezes a gente diz que a ignorância é uma bênção, né? Pois é, mas depois que você passa a enxergar de outro modo, depois que tiramos o véu, não é possível colocar novamente. Com isso quero dizer que coisas que eu pensava há alguns meses era como se a realidade estivesse coberta com um véu, aí tirei o véu e agora enxergo de outra forma. Claro que existem milhões de véus na realidade e a gente nunca para de abrir a cabeça.

Eu quero dizer com tudo isso que o blog vai voltar (espero), mas também que vai ficar mais político (falei nesse post sobre tudo ser político). Ainda vou postar maquiagem e produtos de cabelo? Sim, acredito que sim quando eu sentir vontade, mas acho que serão posts menos frequentes. E vamos continuar em busca da desconstrução e problematização sempre.

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Beijos